o pai que nunca foi

domitilla
2 min readMay 21, 2022

às vezes, quando preciso chorar até esvaziar a minha alma, procuro fotos tuas.

lembro das histórias que a minha mãe me contou para que eu me lembrasse de ti, como aquela vez em que eu ralei o meu joelho e eras a única pessoa que eu queria que colocasse o curativo na minha pele machucada.

ou das vezes em que fomos ao teu bar favorito e cantaste todos os rocks que conhecias. queria tanto ter mais conhecimento, naquela época, das músicas que escutavas, para poder entender o que estavas a proferir. queria tanto te entender por completo, porque eu te amava por completo.

eu ainda te amo por completo, apesar de ter crescido e entendido que não eras perfeito. a verdade é que não importa o que fizeste na tua vida — eu sempre vou te ver como um herói, pois foi o que foste para mim.

meu padrasto. o único pai que eu conheci.

a vida ficou tão dura depois de tua morte. anos se passaram até eu poder dizer que superei.

anos se passaram até que eu pudesse mentir. porque, na verdade, és a minha memória mais bonita.

quando penso em felicidade, és tu que aparece na minha cabeça. como me seguravas como se fosse tua própria filha.

queria poder te ver novamente e perguntar se sou tudo o que acreditaste que eu podia ser.

eu sempre só quis ser uma boa filha para ti — mesmo não sendo tua filha.

espero que saibas, onde quer que estejas, que és, ainda, muito amado. és ainda o amor da vida da minha mãe. e, atrevo-me dizer, da minha também.

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